quarta-feira, outubro 14, 2015

Não destrua nem deixem destruir a sua autoconfiança



Um desabafo rápido em meio a tantos rascunhos e posts que gostaria de publicar antes, mas que necessito fazer pois as palavras e o sentimento ainda estão engasgados na garganta.

Fazem 3 semanas que voltei para o Brasil depois de morar por 6 meses em Londres. Nova vida, novos desafios. Assim que desembarquei em casa, resolvi fazer o corte de cabelo que eu tanto estava desejando (logo logo posto sobre ele). 

Minha mãe gostou muito do corte! Ela mesma já teve o mesmo corte de cabelo que eu tenho agora, com a diferença de que na época ela alisava o cabelo e foi obrigada a adotar esse corte de cabelo por conta de um corte químico após o uso de tintura. 

Ontem eu tive uma entrevista de emprego e estava super animada para isso, já que fui muito mal na última entrevista. Eu já estava arrumada e com o cabelo devidamente arrumado e lindo, com os cachinhos definidos e apontando, do jeito que eu gosto e com menos volume do que eu gostaria. Pena que não tirei uma foto :/

Então minha mãe vem com o seguinte conselho: "Já que você vai a uma entrevista, não deixe seu cabelo assim todo pra cima, dá uma batidinha pra abaixar ele. Não é bom se apresentar com o cabelo todo espetado assim."

Oi? Meu cabelo é crespo! Não me peça pra "baixar" meu cabelo!

Na hora, eu respirei fundo para não soar grosseira, mas a resposta precisava ser. Apenas disse: "Eu sei que a senhora quer me ajudar, mas em relação ao meu cabelo eu peço pra senhora não se meter, pois do meu cabelo cuido eu."

Ela ficou chateada, obviamente. Ela tinha boas intenções achando que estaria me ajudando, mas aquilo só contribuiu para estragar meu humor e minar minha autoconfiança.

Lembrei da minha última tentativa de transição, quando eu havia cortado o cabelo (eu ainda anão tinha feito o bc) e ela perguntou quem tinha feito aquela m... no meu cabelo. Eu chorei e no mesmo dia comprei um pote de relaxante.

Lembrei de como minha mãe não me ensinou a aceitar e amar minhas características desde cedo. Pois desde que me entendo por gente eu alisava o cabelo com pente quente, "apertava" o nariz para deixá-lo mais fino (um dos meus sonhos era fazer rinoplastia. Hoje, fuck that). 

Eu não culpo a minha mãe. Ela é mais uma vítima na nossa sociedade racista (como tantos negros por aí). Na época dela, o racismo era ainda mais agressivo. Hoje, nós temos uma série de recursos para nos proteger, temos uma rede de informações que ajudam a quebrar tabus e a valorizar a nossa identidade. Hoje, os negros enchem o saco dos brancos e eles dizem que somos "vitimistas". Estamos nos emponderando.

Eu percebi que, no meu caso, o caminho teve que ser inverso. Eu é que tenho que ensinar à minha mãe questões sobre identidade e autoestima negra. Eu é que tenho que faze-la aceitar o cabelo que ela me deu. Eu tenho que ensiná-la que se uma empresa implicar com o meu cabelo, essa empresa é racista o bastante para não servir para mim, que eles precisam avaliar o meu CV e não o meu cabelo.

Eu vou ensinar isso aos meus filhos, e, se tiver oportunidade, à minhas sobrinhas. Ganhei autoestima e autoconfiança tarde, mas sempre soube me impor. Eu quero que eles sejam autoconfiantes desde cedo. Essa é a missão de toda mãe (e pai também) negros.

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